terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Não devia, não podia, mas te quero!!!

É isso aí gosto de você...
Gosto e ponto...
Gosto do teu cheiro, do teu rosto
Gosto do teu corpo no meu corpo
Tuas mãos na minha cintura
Tua voz no meu ouvido a dizer loucuras
Teus olhos a olhar nos meus
Sem falar, sem tocar
Ficas a me desejar

É bem isso... quero você
Quero e pronto
Quero teu cheiro no meu corpo
Quero teu rosto no espelho
Quero teu corpo em minhas mãos
Sussurrando ao telefone
Me intimidando com os olhos
Mexendo no meu cabelo
Deitada no teu peito
Fico a implorar

Um pouco de sossego
Um resto de desapego
Um abraço de aconchego
Em teu peito macio
O meu corpo arrepia
Ter você todo dia
Ah como eu queria...

Morgana Fernandes

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Rifa-se um coração - Clarice lispector

Rifa-se um coração
Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste
em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade está um
pouco usado, meio calejado, muito machucado
e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente que nunca desiste
de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração
que acha que Tim Maia
estava certo quando escreveu...
"...não quero dinheiro, eu quero amor sincero,
é isso que eu espero...".
Um idealista...Um verdadeiro sonhador...
Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, e mantém sempre viva a
esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional
sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando
relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste em cometer
sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome
de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições
arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional
que abre sorrisos tão largos que quase dá
pra engolir as orelhas, mas que
também arranca lágrimas
e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado,
ou mesmo utilizado
por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado indicado apenas para
quem quer viver intensamente
contra indicado para os que apenas pretendem
passar pela vida matando o tempo,
defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente
que se mostra sem armaduras
e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater
ouvirá o seu usuário dizer
para São Pedro na hora da prestação de contas:
"O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo,
só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal
quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer e,
se recusa a envelhecer"
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por
outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate
tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,
mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda
não foi adotado, provavelmente, por se recusar
a cultivar ares selvagens ou racionais,
por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio,
sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento
até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que,
mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar,
mas vez por outra,
constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence
seu usuário a publicar seus segredos
e a ter a petulância de se aventurar como poeta

Clarice Lispector

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

"ESSA TAL FELICIDADE"

A Importância de ser FELIZ...

Durante muito tempo na vida eu busquei a felicidade, uma busca constante e muitas vezes decepcionante, buscava algo que não sabia quantificar, ou nem ao menos reconhecer, buscava algo que me era tão estranho e abstrato que de certa forma a sensação era que nunca iria encontrar “Essa tal FELICIDADE”.
De repente descobri ao longo dos anos e com alguns acontecimentos, que a felicidade nada mais é que uma maneira diferente de se viver, de ver o mundo, de sentir o mundo e as pessoas que nele estão, ser feliz por mais frase feita que possa parecer nada mais é que uma questão de escolha, uma escolha gratuita e muito fácil e isso me é tão claro hoje em dia que vejo que o difícil é ser infeliz, o difícil é renegar todas as coisas que tenho em abundância ao alcance das minhas mãos todos os dias que são a expressão mais pura da felicidade e enxergar apenas o que em minha concepção ainda me falta.
Ser feliz é uma conquista diária e constante, sempre haverá vários caminhos a serem percorridos, e você não precisa escolher o caminho que a sociedade julga ser o certo, você só precisa escolher o seu caminho, o caminho que te faz feliz, não o que um dia poderá te fazer feliz, mas o que já te faz feliz só pelo fato de você saber que ele existe.
Todos têm momentos de baixa, mas o grande segredo é: “o quanto permitimos” que estes momentos interfiram na nossa vida, como olhamos pra eles, temos que aprender a ouvir com outros olhos tudo que cerca nossa vida, temos que aprender a ver com o tato, a fugir do obvio, a analisar todas as situações sob uma nova óptica com um novo olhar, parar de enxergar os problemas e parar também de buscar “soluções” para os “tais problemas”, o mapa da mina é não enxergar problemas, no máximo encarar como imprevistos, leves tropeços que aconteceram para te mostrar que as coisas podem ser diferentes, e que o imprevisível pode ser mágico e transformador.
Algum tempo atrás conversando com um amigo disse que estava triste porque tinha decidido largar um emprego, e ele me perguntou se eu era feliz lá, eu respondi que “mais ou menos”, então ele me disse que eu não devia lamentar, e me questionou se eu lá tinha nascido pra ser feliz “mais ou menos”e hoje é essa a pergunta que me faço antes de lamentar por qualquer “perda”, ou melhor qualquer contratempo que ocorre na minha vida, se rompi com alguém ou alguma coisa é porque de alguma forma aquilo já não me fazia bem, aquilo não era parte da felicidade que deve ser a minha vida e se não faz parte da felicidade, devo ficar feliz por ter deixado de fazer parte da minha vida, porque eu tenho dentro de mim a certeza de que nasci para ser Feliz e ser feliz plenamente e isso não é utopia, não pra mim ao menos, pois eu escolhi que assim fosse e desta forma assim será.
Ser feliz é fazer da própria felicidade um jeito de viver e com isso contagiar a todos a seu redor com a luz da sua própria felicidade, ser feliz é olhar nos olhos e sorrir sinceramente, ser feliz é olhar o mar pela manhã, andar com os pés descalços na areia, sentir o vento no seu rosto e pensar que só por poder desfrutar de tudo isso, você já deveria ser imensamente feliz e se um dia disseram que sua felicidade irrita alguém, chame essa pessoa pra ser feliz junto com você...

Morgana Fernandes

Dois homens olharam através das grades da prisão; / um viu a lama, o outro as estrelas. (Santo Agostinho)

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

AMOR INCONDICIONAL...



AO CONHECE-LOS DESCOBRI O SENTIDO DA PALAVRA PRA SEMPRE, O SENTIDO DA PALAVRA AMIZADE,
O SENTIDO DA PALAVRA COMUN-UNIDADE,
E REDESCOBRI O SENTIDO DA PALAVRA FELICIDADE...
VOCÊS SÃO MEUS E NINGUEM ME TIRA ISSO,
VAMOS MUDAR O MUNDO E REALIZAR TODOS OS NOSSOS SONHOS,
AMIGOS VOCÊ NÃO CONHECE,
AMIGOS VOCÊ RECONHECE,
PORQUE ELES SEMPRE FIZERAM PARTE DE SUA VIDA,
MESMO ANTES DE ENCONTRA-LOS,
ELES JÁ ESTAVAM LÁ EM SEUS SONHOS E SEUS PENSAMENTOS,
RECONHECER TANTOS AMIGOS DE UMA SÓ VEZ,
É ALGO MÁGICO E TRANSFORMADOR,
UM SONHO REALIZADO E MATERIALIZADO,
EM SORRISOS,
ABRAÇOS INESPERADOS, ABRAÇOS ESPERADOS,
CONFIDÊNCIAS NO SILÊNCIO,
SENTIMENTOS DEMONSTRADOS NO SIMPLES TOQUE DAS MÃOS...
AMO AMO AMO MUITO MESMO,
VIVO E VIVO FELIZ POR MIM, POR VOCÊS E PELO MUNDO QUE JUNTOS ESTAMOS CONSTRUINDO...

Não é que eu esteja procurando o infinito...


Não é que eu esteja procurando o infinito...
O pouco não me serve, o médio não me satisfaz, metades nunca foram meu forte, palavras até me conquistam temporariamente, mas atitudes me prendem, ou me ganham pra sempre!
É bem por aí. O resto vem. O tempo traz. E ninguém tira. Não se perde o que se conquista, só o que se compra. E conquistar sai bem mais caro, mas vale a pena. Vai valer.
E lembra-se: Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão.

Desconheço o autor, mas acho que tem muita relação com o que sou hoje...

domingo, 15 de novembro de 2009

Martha Medeiros - Amor e Perseguição




Amor e perseguição

“As pessoas ficam procurando o amor como solução para todos os seus problemas quando, na realidade, o amor é a recompensa por você ter resolvido os seus problemas”. Norman Mailer. Copiem. Decorem. Aprendam.
Temos a mania de achar que amor é algo que se busca. Buscamos o amor em bares, buscamos o amor na interner, buscamos o amor na parada de ônibus. Como num jogo de esconde-esconde, procuramos pelo amor que está oculto dentro das boates, nas salas de aula, nas platéias dos teatros. Ele certamente está por ali, você quase pode sentir o seu cheiro, precisa apenas descobri-lo e agarrá-lo o mais rápido possível, pois só o amor constrói, só o amor salva, só o amor traz felicidade.
Amor não é medicamento. Se você está deprimido, histérico ou ansioso demais, o amor não se aproximará,e, caso o faça vai frustrar suas expectativas, porque o amor quer ser recebido com saúde e leveza,ele não suporta a idéia de ser ingerido de quatro em quatro horas, como antibiótico para combater as bactérias da solidão e da falta de auto-estima. Você já ouviu muitas vezes alguém dizer: “Quando eu menos esperava, quando eu havia desistido de procurar, o amor apareceu”. Claro, o amor não é bobo, quer ser bem tratado, por isso escolhe as pessoas que, antes de tudo, tratam bem de si mesmas.
“As pessoas ficam procurando o amor como solução para todos os seus problemas quando, na realidade, o amor é a recompensa por você ter resolvido os seus problemas”. Normal Mailer. Divulguem. Repitam. Convençam-se.
O amor, ao contrário do que se pensa, não tem que vir antes de tudo: antes de estabilizar a carreira profissional, antes de viajar pelo mundo, de curtir a vida. Ele não é uma garantia de que, a partir do seu surgimento, tudo o mais dará certo. Queremos o amor como pré-requisito para o sucesso nos outros setores, quando na verdade, o amor espera primeiro você ser feliz para só então surgir diante de você sem máscaras e sem fantasia. É esta a condição. É pegar ou largar.
Para quem acha que isso é chantagem, arrisco sair em defesa do amor: ser feliz é uma exigência razoável e não é tarefa tão complicada. Felizes aqueles que aprendem a administrar seus conflitos, que aceitam suas oscilações de humor, que dão o melhor de si e não se autoflagelam por causa dos erros que cometem. Felicidade é serenidade. Não tem nada a ver com piscinas, carros e muito menos com príncipes encantados. O amor é o prêmio para quem relaxa.
Martha Medeiros

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Minha essência...


Sou de fato muito simples, difícil de ser entendida pela maioria, mas de fato muito simples para algumas pessoas, algumas pessoas incríveis que são capazes de capturar minha essência, olhar através do que represento e enxergar de fato quem sou, a estas pessoas sou grata por me ajudarem a ser um pouco mais Morgana a cada dia...

UMA SÓ REALIDADE!!!


Sentimentos saltando do papel...

Respeitei meu silêncio nesses últimos dias, pois é acreditem andei reflexiva e silenciosa, sei que parece impossível e nem eu mesma acredito nisso, fiz um silêncio interno, um silêncio meu, mas hoje sozinha no meu quarto ouvindo o barulho da chuva, sentindo a falar, sair desse silêncio que me acompanha desde segunda feira a noite e abrir meu coração a respeito de tudo que vivi e senti junto com pessoas extraordinárias em 5 dias incríveis...

Posso começar falando de paixão, emoção, inspiração, loucura, ternura, aventura, faltam-me adjetivos pra descrever toda a intensidade de sentimentos que vivi nestes dias, como sempre digo Oasis é estréia, Oasis é ousar, essa energia nos leva a agir de forma incomum, nos torna pessoas incomuns, viver envolto nesta energia, é viver em outro mundo, é viver no mundo onde o sonho é realidade construída entre amigos, entre irmãos, viver em comum-unidade, abraçar pessoas e ter a certeza de que você não poderia passar pelo mundo sem receber estes abraços, todos somos um, todos somos parte de um todo muito maior, somos família, somos o mundo que queremos viver.

Posso continuar dizendo que ser oasiano é ser acordado às 3 da manhã com amigos gritando na janela pelo seu nome, sair com eles, encontrar pessoas especiais pela primeira vez e ter a certeza ao abraçá-las de que fizeram parte de sua vida desde sempre, seus corações e suas almas sempre estiveram conectadas, faltava apenas o encontro presencial, o sentir-se abraçado, o olhar nos olhos, e essa emoção se repetiu a cada novo abraço, a cada encontro, reencontro, a cada sonho compartilhado, lagrima derramada, lagrimas de alegria, de emoção, de êxtase, de paixão.

Os sentimentos foram e ainda são tão intensos, a vontade de aproveitar cada segundo, de viver cada momento ao máximo, de se desligar e desprender de todo o resto e acreditar apenas no momento presente, nos sonhos reinventados, o construir teorias e conhecimentos o almejar o infinito, a crença nas pessoas e na humanidade reacendida a cada instante, o empoderamento coletivo, observar a tudo isso foi mágico, ver nascer nos olhos, sentir nos abraços, ver outros despertar para o que a algum tempo despertei, ver o mesmo brilho nos olhos, ver amigos maravilhados ao descobrir que é possível sentir tamanha felicidade em saber que de fato podemos fazer a diferença, que de fato somos capazes de acontecer, crescer e transformar.

Por fim posso permanecer lembrando de cada brincadeira, cada riso solto, a energia que nos envolveu no rio no momento das danças, dos cânticos, a emoção compartilhada nos olhares, nos gestos, cada momento de cuidado, cada imagem capturada e eternizada através de fotos, vídeos, lembranças, sentimentos que traduziram a essência de cada um, a essência do todo, a essência deste novo mundo que buscamos, essa essência que poderei reacender dentro de mim a todo instante, que levarei pra toda vida, amigos que farão parte de minha biografia, da minha es - historia que já fizeram toda a diferença no mundo, que já fizeram toda a diferença na minha vida, quebrar paradigmas, aprender para ensinar, reaprender para pensar, amar para se apaixonar, o encantamento e felicidade que me envolvem neste momento é inexplicável, insuperável, incontestável, inviolável, sagrado, sereno, divino e estarrecedor.

Sinto-me envolta e empoderada de toda energia gerada nestes dias e tenho certeza de que está energia permanecerá comigo por toda a vida, ao contrario do vazio que senti ao retornar “a realidade” da primeira vez que senti essa explosão de sentimentos, de quando conheci o movimento, hoje me sinto preenchida, sinto uma saudade alegre de tudo que vivi, mas não sofro pela ausência, não sofro com o retorno nem com o afastamento, hoje sorrio feliz ao lembrar de cada instante, com a certeza de que não retornei a realidade, eu transformei minha realidade, fiz da minha vida um verdadeiro Oasis, não oscilo mais entre duas realidades, essa é a minha realidade, essa é a minha felicidade, esse é meu mundo e é nele que vou viver, minha satisfação de enfim conseguir me encontrar neste mundo em definitivo é tamanha que não sei se consegui traduzir em palavras este sentimento, mas espero ter conseguido expressar mesmo que de uma forma confusa e talvez até mau-escrita um pouco de todo esse sentimento...

Amo vocês, amo o Oasis e amo tudo que dele provém...

O AMOR

O AMOR

Krishnamurti - Do livro: Liberte-se do Passado - Ed. Cultrix - 
Páginas 71 a 78

A necessidade de segurança nas relações gera inevitavelmente o sofrimento e o medo. Essa busca de segurança atrai a insegurança. Já encontrastes alguma vez segurança em alguma de vossas relações? Já? A maioria de nós quer a segurança no amar e no ser amado, mas existirá amor quando cada um está a buscar a própria segurança, seu caminho próprio? Nós não somos amados porque não sabemos amar.

Que é o amor? Esta palavra está tão carregada e corrompida, que quase não tenho vontade de empregá-la. Todo o mundo fala de amor - toda revista e jornal e todo missionário discorre interminavelmente sobre o amor. Amo a minha pátria, amo o meu rei, amo um certo livro, amo aquela montanha, amo o prazer, amo minha esposa, amo a Deus. O amor é uma idéia? Se é, pode então ser cultivado, nutrido, conservado com carinho, moldado, torcido de todas as maneiras possíveis. Quando dizeis que amais a Deus, que significa isso? Significa que amais uma projeção de vossa própria imaginação, uma projeção de vós mesmo, revestida de certas formas de respeitabilidade, conforme o que pensais ser nobre e sagrado; o dizer "Amo a Deus" é puro contra-senso. Quando adorais a Deus, estais adorando a vós mesmo; e isso não é amor.

Incapazes, que somos, de compreender essa coisa humana chamada amor, fugimos para abstrações. O amor pode ser a solução final de todas as dificuldades, problemas e aflições humanas. Assim, como iremos descobrir o que é o amor? Pela simples definição? A Igreja o tem definido de uma maneira, a sociedade de outra, e há também desvios e perversões de toda espécie. A adoração de uma certa pessoa, o amor carnal, a troca de emoções, o companheirismo - será isso o que se entende por amor? Essa foi sempre a norma, o padrão, que se tornou tão pessoal, sensual, limitado, que as religiões declararam que o amor é muito mais do que isso. Naquilo que denominam "amor humano", vêem elas que existe prazer, competição, ciúme, desejo de possuir, de conservar, de controlar, de influir no pensar de outrem e, sabendo da complexidade dessas coisas, dizem as religiões que deve haver outra espécie de amor - divino, belo, imaculado, incorruptível.

Em todo o mundo, certos homens chamados "santos" sempre sustentaram que olhar para uma mulher é pecaminoso; dizem que não podemos aproximar-nos de Deus se nos entregamos ao sexo e, por conseguinte, o negam, embora eles próprios se vejam devorados por ele. Mas, negando o sexo, esses homens arrancam os próprios olhos, decepam a própria língua, uma vez que estão negando toda a beleza da Terra. Deixaram famintos os seus corações e a sua mente; são entes humanos "desidratados"; baniram a beleza, porque a beleza está ligada à mulher.

Pode o amor ser dividido em sagrado e profano, humano e divino, ou só há amor? O amor é para um só e não para muitos? Se digo "Amo-te", isso exclui o amor a outro? O amor é pessoal ou impessoal? Moral ou imoral? Familial ou não familial? Se amais a humanidade, podeis amar o indivíduo? O amor é sentimento? Emoção? O amor é prazer e desejo? Todas essas perguntas indicam - não é verdade? - que temos idéias a respeito do amor, idéias sobre o que ele deve ou não deve ser, um padrão, um código criado pela cultura em que vivemos.

Assim, para examinarmos a questão do amor - o que é o amor - devemos primeiramente libertar-nos das incrustações dos séculos, lançar fora todos os ideais e ideologias sobre o que ele deve ou não deve ser. Dividir qualquer coisa em o que deveria ser e o que é, é a maneira mais ilusória de enfrentar a vida.

Ora, como iremos saber o que é essa chama que denominamos amor - não a maneira de expressá-lo a outrem, porém o que ele próprio significa? Em primeiro lugar, rejeitarei tudo o que a Igreja, a sociedade, meus pais e amigos, todas as pessoas e todos os livros disseram a seu respeito, porque desejo descobrir por mim mesmo o que ele é. Eis um problema imenso, que interessa a toda a humanidade; há milhares de maneiras de defini-lo e eu próprio me vejo todo enredado neste ou naquele padrão, conforme a coisa que, no momento, me dá gosto ou prazer. Por conseguinte, para compreender o amor, não devo em primeiro lugar libertar-me de minhas inclinações e preconceitos? Vejo-me confuso, dilacerado pelos meus próprios desejos e, assim, digo entre mim: "Primeiro, dissipa a tua confusão. Talvez tenhas possibilidade de descobrir o que é o amor através do que ele não é".

O governo ordena: "Vai e mata, por amor à pátria!" Isso é amor? A religião preceitua: "Abandona o sexo, pelo amor de Deus". Isso é amor? O amor é desejo? Não digais que não. Para a maioria de nós, é; desejo acompanhado de prazer, prazer derivado dos sentidos, pelo apego e o preenchimento sexual. Não sou contrário ao sexo, mas vede o que ele implica. O que o sexo vos dá momentaneamente é o total abandono de vós mesmo, mas, depois, voltais à vossa agitação; por conseguinte, desejais a constante repetição desse estado livre de preocupação, de problema, do "eu". Dizeis que amais vossa esposa. Nesse amor está implicado o prazer sexual, o prazer de terdes uma pessoa em casa para cuidar dos filhos e cozinhar. Dependeis dela; ela vos deu o seu corpo, suas emoções, seus incentivos, um certo sentimento de segurança e bem--estar. Um dia, ela vos abandona; aborrece-se ou foge com outro homem, e eis destruído todo o vosso equilíbrio emocional; essa perturbação, de que não gostais, chama-se ciúme. Nele existe sofrimento, ansiedade, ódio e violência. Por conseguinte, o que realmente estais dizendo é: "Enquanto me pertences, eu te amo; mas, tão logo deixes de pertencer-me, começo a odiar-te. Enquanto posso contar contigo para satisfação de minhas necessidades sociais e outras, amo-te, mas, tão logo deixes de atender a minhas necessidades, não gosto mais de ti". Há, pois, antagonismo entre ambos, há separação, e quando vos sentis separados um do outro, não há amor. Mas, se puderdes viver com vossa esposa sem que o pensamento crie todos esses estados contraditórios, essas intermináveis contendas dentro de vós mesmo, talvez então - talvez - sabereis o que é o amor. Sereis então completamente livre, e ela também; ao passo que, se dela dependeis para os vossos prazeres, sois seu escravo. Portanto, quando uma pessoa ama, deve haver liberdade - a pessoa deve estar livre, não só da outra, mas também de si própria.

No estado de pertencer a outro, de ser psicologicamente nutrido por outro, de outro depender - em tudo isso existe sempre, necessariamente, a ansiedade, o medo, o ciúme, a culpa, e enquanto existe medo, não existe amor. A mente que se acha nas garras do sofrimento jamais conhecerá o amor; o sentimentalismo e a emotividade nada, absolutamente nada, têm que ver com o amor. Por conseguinte, o amor nada tem em comum com o prazer e o desejo.

O amor não é produto do pensamento, que é o passado. O pensamento não pode de modo nenhum cultivar o amor. O amor não se deixa cercar e enredar pelo ciúme; porque o ciúme vem do passado. O amor é sempre o presente ativo. Não é "amarei" ou "amei". Se conheceis o amor, não seguireis ninguém. O amor não obedece. Quando se ama, não há respeito nem desrespeito.

Não sabeis o que significa amar realmente alguém - amar sem ódio, sem ciúme, sem raiva, sem procurar interferir no que o outro faz ou pensa, sem condenar, sem comparar - não sabeis o que isso significa? Quando há amor, há comparação? Quando amais alguém de todo o coração, com toda a vossa mente, todo o vosso corpo, todo o vosso ser, existe comparação? Quando vos abandonais completamente a esse amor, não existe "o outro".

O amor tem responsabilidades e deveres, e emprega tais palavras? Quando fazeis alguma coisa por dever, há nisso amor? No dever não há amor. A estrutura do dever, na qual o ente humano se vê aprisionado, o está destruindo. Enquanto sois obrigado a fazer uma coisa, porque é vosso dever fazê-la, não amais a coisa que estais fazendo. Quando há amor, não há dever nem responsabilidade.

A maioria dos pais, infelizmente, pensa que são responsáveis por seus filhos, e seu senso de responsabilidade toma a forma de preceituar-lhes o que devem fazer e o que não devem fazer, o que devem ser e o que não devem ser. Querem que os filhos conquistem uma posição segura na sociedade. Aquilo a que chamam responsabilidade faz parte daquela respeitabilidade que eles cultivam; e a mim me parece que, onde há respeitabilidade, não existe ordem; só lhes interessa o tornar-se um perfeito burguês. Preparando os filhos para se adaptarem à sociedade, estão perpetuando a guerra, o conflito e a brutalidade. Pode-se chamar a isso zelo e amor?

Zelar, com efeito, é cuidar como se cuida de uma árvore ou de uma planta, regando-a, estudando as suas necessidades, escolhendo o solo mais adequado, tratá-la com carinho e ternura; mas, quando preparais os vossos filhos para se adaptarem à sociedade, os estais preparando para serem mortos. Se amásseis vossos filhos, não haveria guerras.

Quando perdeis alguém que amais, verteis lágrimas; essas lágrimas são por vós mesmo ou pelo morto? Estais pranteando a vós mesmo ou ao outro? Já chorastes por outrem? Já chorastes o vosso filho, morto no campo de batalha? Chorastes, decerto, mas essas lágrimas foram produto da autocompaixão ou chorastes porque um ente humano foi morto? Se chorais por autocompaixão, vossas lágrimas nada significam, porque estais interessado em vós mesmo. Se chorais porque vos foi arrebatada uma pessoa em quem "depositastes" muita afeição, não se trata de uma afeição real. Se chorais a morte de vosso irmão, chorai por ele! É muito fácil chorardes por vós mesmo porque ele partiu. Aparentemente, chorais porque vosso coração foi atingido, mas não foi atingido por causa dele; foi atingido pela autocompaixão, e a autocompaixão vos endurece, vos fecha, vos torna embotado e estúpido.

Quando chorais por vós mesmo, será isso amor? - chorar porque ficastes sozinho, porque perdestes o vosso poder; queixar-vos de vossa triste sina, de vosso ambiente - sempre vós a verter lágrimas. Se compreenderdes esse fato, e isso significa pôr-vos em contato com ele tão diretamente como quando tocais uma árvore ou uma coluna ou uma mão, vereis então que o sofrimento é produto do "eu", o sofrimento é criado pelo pensamento, o sofrimento é produto do tempo. Há três anos eu tinha meu irmão; hoje ele é morto e estou sozinho, desolado, não tenho mais a quem recorrer para ter conforto ou companhia, e isso me traz lágrimas aos olhos.

Podeis ver tudo isso acontecer dentro de vós mesmo, se o observardes. Podeis vê-lo de maneira plena, completa, num relance, sem precisardes do tempo analítico. Podeis ver num momento toda a estrutura e natureza dessa coisa desvaliosa e insignificante, chamada "eu" - minhas lágrimas, minha família, minha nação, minha crença, minha religião - toda essa fealdade está em vós. Quando a virdes com vosso coração, e não com vossa mente, quando a virdes do fundo de vosso coração, tereis então a chave que acabará com o sofrimento.

O sofrimento e o amor não podem coexistir, mas no mundo cristão idealizaram o sofrimento, crucificaram-no para o adorar, dando a entender que ninguém pode escapar ao sofri mento a não ser por aquela única porta; tal é a estrutura de uma sociedade religiosa, exploradora.

Assim, ao perguntardes o que é o amor, podeis ter muito medo de ver a resposta. Ela pode significar uma completa reviravolta; poderá dissolver a família; podeis descobrir que não amais vossa esposa ou marido ou filhos (vós os amais?); podeis ter de demolir a casa que construístes; podeis nunca mais voltar ao templo.

Mas, se desejais continuar a descobrir, vereis que o medo, não é amor, a dependência não é amor, o ciúme não é amor, a posse e o domínio não são amor, responsabilidade e dever não são amor, autocompaixão não é amor, a agonia de não ser amado não é amor, que o amor não é o oposto do ódio, como também a humildade não é o oposto da vaidade. Dessarte, se fordes capaz de eliminar tudo isso, não à força, porém lavando-o assim como a chuva fina lava a poeira de muitos dias depositada numa folha, então, talvez, encontrareis aquela flor peregrina que o homem sempre buscou sequiosamente.

Se não tendes amor - não em pequenas gotas, mas em abundância; se não estais transbordando de amor, o mundo irá ao desastre. Intelectualmente, sabeis que a unidade humana é a coisa essencial e que o amor constitui o único caminho para ela, mas quem pode ensinar-vos a amar? Poderá uma autoridade, um método, um sistema ensinar-vos a amar? Se alguém vo-lo ensina, isso não é amor. Podeis dizer: "Eu me exercitarei para o amor. Sentar-me-ei todos os dias para refletir sobre ele. Exercitar-me-ei para ser bondoso, delicado e me forçarei a ser atencioso com os outros"? - Achais que podeis disciplinar-vos para amar, que podeis exercer a vontade para amar? Quando exerceis a vontade e a disciplina para amar, o amor vos foge pela janela. Pela prática de um certo método ou sistema de amar, podeis tornar-vos muito hábil, ou mais bondoso, ou entrar num estado de não violência, mas nada disso tem algo em comum com o amor.

Neste mundo tão dividido e árido não há amor, porque o prazer e o desejo têm a máxima importância, e, todavia, sem amor, vossa vida diária é sem significação. Também, não podeis ter o amor se não tendes a beleza. A beleza não é uma certa coisa que vedes - não é uma bela árvore, um belo quadro, um belo edifício ou uma bela mulher; só há beleza quando o vosso coração e a vossa mente sabem o que é o amor. Sem o amor e aquele percebimento da beleza, não há virtude, e sabeis muito bem que tudo o que fizerdes - melhorar a sociedade, alimentar os pobres - só criará mais malefício, porque, quando não há amor, só há fealdade e pobreza em vosso coração e vossa mente. Mas, quando há amor e beleza, tudo o que se faz é correto, tudo o que se faz é ordem. Se sabeis amar, podeis fazer o que desejardes, porque o amor resolverá todos os outros problemas.

Alcançamos, assim, este ponto: Poderá a mente encontrar o amor sem precisar de disciplina, de pensamento, de coerção, de nenhum livro, instrutor ou guia - encontrá-lo assim como se encontra um belo pôr-de-sol?

Uma coisa me parece absolutamente necessária: a paixão sem motivo, a paixão não resultante de compromisso ou ajustamento, a paixão que não é lascívia. O homem que não sabe o que é paixão, jamais conhecerá o amor, porque o amor só pode existir quando a pessoa se desprende totalmente de si própria.

A mente que busca não é uma mente apaixonada, e não buscar o amor é a única maneira de encontrá-lo; encontrá-lo inesperadamente e não como resultado de qualquer esforço ou experiência. Esse amor, como vereis, não é do tempo; ele é tanto pessoal como impessoal, tanto um só como multidão. Como uma flor perfumosa, podeis aspirar-lhe o perfume, ou passar por ele sem o notardes. Aquela flor é para todos e para aquele que se curva para aspirá-la profundamente e olhá-la com deleite. Quer estejamos muito perto, no jardim, quer muito longe, isso é indiferente à flor, porque ela está cheia de seu perfume e pronta a reparti-lo com todos.

O amor é uma coisa nova, fresca, viva. Não tem ontem nem amanhã. Está além da confusão do pensamento. Só a mente inocente sabe o que é o amor, e a mente inocente pode viver no mundo não inocente. Só é possível encontrá-la, essa coisa maravilhosa que o homem sempre buscou sequiosamente por meio de sacrifícios, de adoração, das relações, do sexo, de toda espécie de prazer e de dor, só é possível encontrá-la quando o pensamento, alcançando a compreensão de si próprio, termina naturalmente. O amor não conhece oposto, não conhece conflito.

Podeis perguntar: "Se encontro esse amor, que será de minha mulher, de minha família? Eles precisam de segurança". Fazendo essa pergunta, mostrais que nunca estivestes fora do campo do pensamento, fora do campo da consciência. Quando tiverdes alguma vez estado fora desse campo, nunca fareis uma tal pergunta, porque sabereis o que é o amor em que não há pensamento e, por conseguinte, não há o tempo. Podeis ler tudo isto hipnotizado e encantado, mas ultrapassar realmente o pensamento e o tempo - o que significa transcender o sofrimento - é estar cônscio de uma dimensão diferente, chamada "amor".

Mas, não sabeis como chegar-vos a essa fonte maravilhosa e, assim, que fazeis? Quando não sabeis o que fazer, nada fazeis, não é verdade? Nada, absolutamente. Então, interiormente, estais completamente em silêncio. Compreendeis o que isso significa? Significa que não estais buscando, nem desejando, nem perseguindo; não existe centro nenhum. Há, então, o amor.

Krishnamurti - Do livro: Liberte-se do Passado - Ed. Cultrix - Páginas 71 a 78