segunda-feira, 28 de novembro de 2011

DEIXE O AMOR ENTRAR...

Não devemos jamais nos acostumar à dor, penso que de todas as situações que podem te levar ao comodismo da rotina dos dias que não param de passar, acostumar-se a sentir dor, seja ela qual for, seja o pior de todos, prefiro que a dor cumpra seu papel, lateje, maltrate, sangre até se for preciso, mas que aos poucos desapareça, tenha cura e quero mesmo é poder me acostumar com a felicidade que só o AMOR é capaz de proporcionar!!!

Morgana Fernandes


Gabito Nunes FANTÁSTICO...


John, você me deve uma


Estávamos trocando confianças e comendo pizza de acordo com todos sábados a noite, quando nenhum dos dois estava com apetite pra conhecer alguém novo. Foi quando essa minha amiga, a melhor de todas eu diria, desatarraxou a chorar. O pepperoni estava apimentado, sim, mas não vi razão pra aquilo tudo. Até que ela pôs os pulmões para trabalhar e disse que não tinha nada a ver, que era bobagem, deixa prá lá. Ei, somos amigos, eu disse, pode se abrir. Ela respirou fundo, soluçou feito a Jane Birkin naquela música sacana e mandou:

ELA (voltando a chorar em convulsão): É que, sabe, faz tempo que não vejo barata.
EU (confuso e consolador): Ok. Tudo bem. Não fica assim, tenho certeza que devo ter alguma na cozinha.
ELA (eufônica, novamente): Não, você não entendeu. É que (voltando a destilar e falar a língua oficial dos cães atropelados), sabe, faz tempo que não vou ao Pará.
EU (confuso e consolador): Tudo bem. Ok. Eu não sabia que já tinha visitado o lugar, e muito menos que tinha gostado tanto, posso ver algum pacote...
ELA (irritada e ultrasônica): Faz tempo que não transo com um cara! Porra. Quase um ano e meio.
EU (deglutindo ardentemente): Ok. Tudo bem. Pois é. Mais pepperoni então?

Bem, até que ela quis saber se eu faria com ela. Você sabe, o sexo. Sem amor e sem compromisso. Amanhã voltaria tudo na mesma. Até me estendeu a mãozinha, pronta pra fechar o acordo. Só por hoje. Assim mesmo, como quem pede a terceira temporada de "Mad About You" emprestada e promete devolver no dia seguinte. Eu, como todo homem na minha posição, disse que não, peraí, o que você pensa que eu sou? Neguei, claro. Porque sim. Tenho meus motivos.

Mas não os motivos obrigatórios para rejeitar uma noite de erupção sexual: gola do meu blusão apertada, sutiã de feichecler duplo, cueca azul fusca que minha mãe comprou com empolgação ou tubinho de Micostatin® Vaginal espremido até o fim no armário do banheiro. Não, nada disso. Ela não era atraente? Poxa vida, anota aí, ela tinha três das coisas mais sexies do mundo: sotaque do interior, sua cantora favorita era Carly Simon e, você sabe, estava com a carência em dia.

Então, rapaz, faça isso logo de uma vez, provavelmente duas, ou talvez três, se não for pizza demais. Qual seu problema? Antes que vocês me julguem, embora provavelmente já tenham o feito, preciso dizer que somos amigos, ora. Apenas seria um retrocesso. Eu acreditava nesse lance de amizade entre sexos, me sentia confortável com isso, estar com ela era estar longe da obrigação de dar em cima de uma mulher estonteante, coisa que pra mim nunca funcionou muito bem de toda forma. E agora isso.

Não adianta, garotas são assim mesmo, se fazem de débil mental só pra dar uma volta de ambulância. Com o desenvolvimento da construção civil no país da Copa, e sendo apenas sexo, por que eu, justo eu, meu santinho? Se fosse o contrário, se a proposta de sexo sem amor e sem compromisso partisse de mim, ela iria me dar com um vinil da Carly Simon na cara. Ou, melhor, acertaria o lance todo na minha casa, não apareceria na hora marcada e nem depois, e mais tarde enviaria um torpedo educado com "essa é minha definição de sexo sem compromisso, seu idiota boçal filho-da-puta babaca otário".

Ademais, não sou o tipo de cara que faz sexo com as amigas na caradura, e no domingo a tarde fica girando o chaveiro no dedo, encostado num muro. Não é bem a minha área. Eu teria de repensar toda minha estrutura de vida, teria de andar com outra espécie de homens, mudar meu jeito de caminhar ou cultivar um bigode, arranjar um carro e um boné, de repente não ouvir mais o tipo de canções que gosto, e talvez me familiarizar com a música sertaneja ou eletrônica.

Você simplesmente não pode curtir "Everybody Hurts" do R.E.M. e sair por aí transando com suas amigas sem um pingo de consideração, como se não soubesse qual a única coisa que realmente importa. Deixa eu explicar como funciona sua vida: se você fez da música (ou a literatura, ou o cinema, enfim, qualquer coisa que te faça sorver algum tipo de emoção) parte central da sua existência, lamento, mas você foi treinado para sentir.

Se não fui capaz de transar com uma das pessoas que mais adoro e uma das mulheres mais bonitas que já conheci, bem, a culpa não é minha. Se existe um responsável pelas noites que deixei de curtir na boa, esse alguém é John Lennon. John, cara, eu adorei "Jealous Guy" e tudo mais, mas você me deve uma. Uma que escutava Carly Simon. Gostando você ou não, onde há afeto, todo sexo já vem com o mínimo de compromisso.