Mostrando postagens com marcador RECOMEÇO. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador RECOMEÇO. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A TRISTEZA PERMITIDA (Marta Medeiros)


A TRISTEZA PERMITIDA (Marta Medeiros)



Se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair pra compras e reuniões – se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem pra sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como?

Você vai dizer “te anima” e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer pra eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra.

Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra.

A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido.

Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente – as razões têm essa mania de serem discretas.

“Eu não sei o que meu corpo abriga/ nestas noites quentes de verão/ e não me importa que mil raios partam/ qualquer sentido vago da razão/ eu ando tão down...” Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. “Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.

Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem pra isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor – até que venha a próxima, normais que somos.

Martha Medeiros

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Levar um "FORA" - Morgana Fernandes


Levar um fora...

Nos últimos dias andei pensando muito a respeito disso, porque ficamos tão deprimidos quando levamos um fora?
Muitas vezes a relação nem nos interessa mais, ou não nos satisfazia da forma que precisávamos, ou não fazia nenhum sentido, mas levar um fora é sempre traumático, causa uma dor quase física, cortante, dói não adianta, pode doer 5 minutos e depois você vai rir de tudo, pode durar um final de semana, um mês, um ano, uma vida, não importa, levar um fora sempre dói, cabe a nós decidir quanto tempo e energia iremos desperdiçar de nossas tão valiosas vidas, presos a este acontecimento alheio a nossa vontade, ou em algumas vezes nem tão alheio assim, e esquecemos o quão libertador pode ser o famoso “FORA” o “PÉ NA BUNDA”, se analisarmos com outros olhos, veremos o sabor de liberdade que pode haver em um “fora”, se o cara te deu um “fora” sem dó nem piedade, se te deixou tonta, tola, perdida, sem entender coisa nenhuma (embora no fundo você entenda tudo, mas se nega a acreditar), pensa que era devido, ou que não era devido, permita-se sofrer, 5 minutinhos, 5 horas, 5 dias, mas não deixe de viver e principalmente de ver tudo que ocorre ao seu redor, se levou um fora, é porque a relação já não era mais como deveria ser, como te faria feliz, fique grata pela pessoa ter sido honesta com você e ter te libertado de viver infeliz ao lado dela, chore, sofra, mas não a vida inteira, não se faça de vitima, nem odeie o outro por não te amar mais, por você ter deixado de ser importante pra ele, agradeça-o por dar a você a chance de encontrar alguém melhor que lhe fará mais feliz, ou até mesmo de você descobrir o quanto feliz pode ser consigo mesma, com seus amigos, com seus amantes, com seus livros, suas viagens, seus discos, suas inúmeras possibilidades, pense que no final das contas aquele que era tão especial, torna-se mais um, um qualquer, um homem que não te trata como você merece, que é grosseiro, rude, que te deixa sozinha justo quando você mais precisa de apoio, que te nega um ombro e amizade, que esquece tudo que você representou na vida dele enquanto estavam juntos, todas as vezes que foi ele a precisar do seu colo, ele não merece seu amor, seu carinho, suas lagrimas, ele não é digno nem dos seus pensamentos, aquele ser que você julgava especial, torna-se um estranho, um completo desconhecido diante dos teus olhos, o homem que você amava não existe mais, e ninguem sofre por algo que nem existe, sofre???

Nunca se esqueça de uma regra importante, se você não se amar e se respeitar em primeiro lugar, não espere que outra pessoa o faça, tenha certeza de que as pessoas te tratarão exatamente como você permitir que te tratem, não espere flores se você geralmente aceita bem os espinhos... Queria as rosas, deixe claro que não aceita menos que isso, que você quer a beleza das rosas, pois tem a certeza que é digna delas e se alguem te oferecer menos que isso, não chore, não lamente, é apenas um sinal de que não é digno de você e deixe o caminho livre para algo melhor que está a sua espera!!!

Então levante a cabeça, coloque seu melhor vestido, deixe-se perceber, permita-se conhecer e siga feliz até encontrar seu grande amor ou até levar um próximo “FORA”...

Morgana Fernandes

Uma pessoa é unica ao estender a mão e se torna mais uma ao recolhe-la inesperadamente. O egoismo unifica os insignificantes... Martha Medeiros!!!

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Mais uma vez... Martha Medeiros... A DOR QUE DÓI MAIS...

A DOR QUE DÓI MAIS

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.
Martha Medeiros