Tenho ou que parar de ler o Gabito Nunes, ou parar de postar no blog, meu blog está ficando apenas com textos dele...
Mas é irresístivel, não tenho como ler e não querer compartilhar, esse texto mesmo é uma delicia...
Porém o "EU", feminino dos textos dele, é um tanto quanto covarde na minha opnião, digamos que daria um final diferente à essas mulheres, porém elas retratam em muito como nos vemos em varias situações, o quanto simplesmente desistimos e abrimos mão daquilo que queremos, por pura insegurança e medo de arriscar, mesmo assim as histórias e narrativas são envolventes e deliciosamente viciantes, impossível não se apaixonar...
Sou essa mistura bioquímica de menina, garota e mulher, e talvez me apaixonar seja minha principal atribuição. Sei lá. Sei que se eu fizesse algum dinheiro com isso, quem sabe os caras da revista Time tocassem minha campainha pra fazer algumas fotos, ou eu estaria agora mesmo respondendo o convite de algum talk-show pra falar sobre amores ardentes, martírio e desilusão. Enfim, eu me apaixono toda semana, das formas mais inéditas. Essa última só fez me flagrar o quanto sou imatura, nada que eu já não desconfiasse.
Acontece com os rapazes mais intoleráveis, entre os tipos, viciados em cheirar ex-namoradas, ostentadores de cavanhaque, adoradores de mãe e líderes de bandas de garagem fracassadas com nomes levianos, tais como "Codornas Asmáticas". Mas nunca um ausente. Uma amiga retornou da Europa cheia de mimos e me chamou lá onde estava hospedada, no apartamento do irmão dela. Após umas risadas, ela teve de ir ao banheiro, e eu pus em prática meu plano subliminar e insensato predileto: fuçar a coleção de discos alheia. Na primeira coluna, abaixo da televisão, meu coração afunda.
Você já deve ter ouvido falar, possivelmente de algum vegetariano combatente, que somos aquilo que comemos. Eu acho que somos o que escutamos. Diga-me os discos que compras, e eu te direi quem és. No caso, o moço do apartamento é decididamente o homem da minha vida. Soube disso já no "Blonde On Blonde", de Bob Dylan. Passar a ponta dos dedos no "London Calling", do Clash foi como um fatal primeiro olhar. O "Ok Computer" do Radiohead foi como o beijo inaugural, ou seja, me fez saber tudo que eu precisava sobre ele. "What's Going On", do Marvin Gaye, me provocou um orgasmo quase seguido de desmaio. Aí "The Dark Side Of The Moon" me pediu em casamento, e a edição rara de Bruce Springsteen com o bônus-track ao vivo de "Thunder Road" fisicamente me palpitou o útero, sugerindo correr até a farmácia passar no débito um teste de gravidez.
A discografia completa dos Beatles. Todos da Legião Urbana. Quase todos da fase antiga do U2. Coisas incríveis como Moby, Carole King, Ramones, Love, Beach Boys, David Bowie, Led Zeppelin, Nirvana, Grateful Dead, New Order, Patti Smith, Eagles, Queen, Guns N' Roses, The Verve, Pearl Jam. Os nacionais Mutantes, Marisa Monte, Clube da Esquina, Titãs, Barão Vermelho com e sem Cazuza, Roberto Carlos 60' e 70'. Como ninguém é perfeito, entre todos há uma antologia do Duran Duran. Mas não há de ser nada, deve ser presente de alguma ex burra e desinformada e morta. No mais, uau. Eu te amo, cara. Como não ficar louca de cara por um sujeito desses?
Pode me chamar de desmiolada, mas talvez você não entenda. Parecem apenas caixinhas acrílicas empilhadas, mas há todo um éden sonoro aqui. Tantos álbuns que eu sabia da existência, mas nunca tive peito de comprar agora com esse lance da era digital. Eis finalmente um alguém que realmente sabe cultivar uma paixão, que conhece o prazer que a ponta dos dedos pode proporcionar - o MP3 matou o romance, não há mais fases de conquista e os longos olhares, o beijo iminente na porta do prédio, os pés se provocando embaixo da mesa do restaurante, os amassos no sofá com todas as luzes apagadas. Agora as pessoas só pensam em baixar, baixar, baixar. As canções e as calcinhas. Sério, quem convidou 2012?
Não sei quanto a você, mas eu sempre achei um saco quando a gente conhece alguém memorável, e essa pessoa memorável não está lá pra nos conhecer. Sim, eu poderia dar um jeito da sua irmã nos aproximar. Sim, eu poderia fazer plantão acocada do outro da rua lendo "O Apanhador no Campo de Centeio" enquanto você não chega. Ou então começar com alguns toques anônimos no seu interfone seguidos de corrida intensa até dobrar a esquina. Quem sabe eu crio coragem e subo até seu apartamento. Pelada. Ou coberta apenas com o "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band". Só pra ver se você me nota e vê em mim o que ninguém até hoje enxergou.
Mas eu tenho medo. Medo de saber o que você acha de Carly Simon e Green Day e da compatibilidade das demais seções da minha coleção. Ou que, vai ver, você pense que eu tenho discos de menos pra merecer você. De qualquer maneira, não sei se estou pronta pra esse tipo de rejeição no momento. Talvez seja melhor e prudente ampliar minha outra coletânea, a de "Paixões-Arquivadas-por-Falta-de-Beijo". Essa ninguém me bate. Estou no topo das paradas, semana após semana.
Gabito Nunes
Mas é irresístivel, não tenho como ler e não querer compartilhar, esse texto mesmo é uma delicia...
Porém o "EU", feminino dos textos dele, é um tanto quanto covarde na minha opnião, digamos que daria um final diferente à essas mulheres, porém elas retratam em muito como nos vemos em varias situações, o quanto simplesmente desistimos e abrimos mão daquilo que queremos, por pura insegurança e medo de arriscar, mesmo assim as histórias e narrativas são envolventes e deliciosamente viciantes, impossível não se apaixonar...
Coleção
Sou essa mistura bioquímica de menina, garota e mulher, e talvez me apaixonar seja minha principal atribuição. Sei lá. Sei que se eu fizesse algum dinheiro com isso, quem sabe os caras da revista Time tocassem minha campainha pra fazer algumas fotos, ou eu estaria agora mesmo respondendo o convite de algum talk-show pra falar sobre amores ardentes, martírio e desilusão. Enfim, eu me apaixono toda semana, das formas mais inéditas. Essa última só fez me flagrar o quanto sou imatura, nada que eu já não desconfiasse.
Acontece com os rapazes mais intoleráveis, entre os tipos, viciados em cheirar ex-namoradas, ostentadores de cavanhaque, adoradores de mãe e líderes de bandas de garagem fracassadas com nomes levianos, tais como "Codornas Asmáticas". Mas nunca um ausente. Uma amiga retornou da Europa cheia de mimos e me chamou lá onde estava hospedada, no apartamento do irmão dela. Após umas risadas, ela teve de ir ao banheiro, e eu pus em prática meu plano subliminar e insensato predileto: fuçar a coleção de discos alheia. Na primeira coluna, abaixo da televisão, meu coração afunda.
Você já deve ter ouvido falar, possivelmente de algum vegetariano combatente, que somos aquilo que comemos. Eu acho que somos o que escutamos. Diga-me os discos que compras, e eu te direi quem és. No caso, o moço do apartamento é decididamente o homem da minha vida. Soube disso já no "Blonde On Blonde", de Bob Dylan. Passar a ponta dos dedos no "London Calling", do Clash foi como um fatal primeiro olhar. O "Ok Computer" do Radiohead foi como o beijo inaugural, ou seja, me fez saber tudo que eu precisava sobre ele. "What's Going On", do Marvin Gaye, me provocou um orgasmo quase seguido de desmaio. Aí "The Dark Side Of The Moon" me pediu em casamento, e a edição rara de Bruce Springsteen com o bônus-track ao vivo de "Thunder Road" fisicamente me palpitou o útero, sugerindo correr até a farmácia passar no débito um teste de gravidez.
A discografia completa dos Beatles. Todos da Legião Urbana. Quase todos da fase antiga do U2. Coisas incríveis como Moby, Carole King, Ramones, Love, Beach Boys, David Bowie, Led Zeppelin, Nirvana, Grateful Dead, New Order, Patti Smith, Eagles, Queen, Guns N' Roses, The Verve, Pearl Jam. Os nacionais Mutantes, Marisa Monte, Clube da Esquina, Titãs, Barão Vermelho com e sem Cazuza, Roberto Carlos 60' e 70'. Como ninguém é perfeito, entre todos há uma antologia do Duran Duran. Mas não há de ser nada, deve ser presente de alguma ex burra e desinformada e morta. No mais, uau. Eu te amo, cara. Como não ficar louca de cara por um sujeito desses?
Pode me chamar de desmiolada, mas talvez você não entenda. Parecem apenas caixinhas acrílicas empilhadas, mas há todo um éden sonoro aqui. Tantos álbuns que eu sabia da existência, mas nunca tive peito de comprar agora com esse lance da era digital. Eis finalmente um alguém que realmente sabe cultivar uma paixão, que conhece o prazer que a ponta dos dedos pode proporcionar - o MP3 matou o romance, não há mais fases de conquista e os longos olhares, o beijo iminente na porta do prédio, os pés se provocando embaixo da mesa do restaurante, os amassos no sofá com todas as luzes apagadas. Agora as pessoas só pensam em baixar, baixar, baixar. As canções e as calcinhas. Sério, quem convidou 2012?
Não sei quanto a você, mas eu sempre achei um saco quando a gente conhece alguém memorável, e essa pessoa memorável não está lá pra nos conhecer. Sim, eu poderia dar um jeito da sua irmã nos aproximar. Sim, eu poderia fazer plantão acocada do outro da rua lendo "O Apanhador no Campo de Centeio" enquanto você não chega. Ou então começar com alguns toques anônimos no seu interfone seguidos de corrida intensa até dobrar a esquina. Quem sabe eu crio coragem e subo até seu apartamento. Pelada. Ou coberta apenas com o "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band". Só pra ver se você me nota e vê em mim o que ninguém até hoje enxergou.
Mas eu tenho medo. Medo de saber o que você acha de Carly Simon e Green Day e da compatibilidade das demais seções da minha coleção. Ou que, vai ver, você pense que eu tenho discos de menos pra merecer você. De qualquer maneira, não sei se estou pronta pra esse tipo de rejeição no momento. Talvez seja melhor e prudente ampliar minha outra coletânea, a de "Paixões-Arquivadas-por-Falta-de-Beijo". Essa ninguém me bate. Estou no topo das paradas, semana após semana.
Gabito Nunes
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