Sem alarde, uma empresa catarinense entrou na corrida pelo disputado mercado dos tablets, um aparelho que nem sequer completou dois anos e já mudou o perfil da indústria de tecnologia no país e no mundo. A Aiox do Brasil, do Grupo Sul Brasil, de Caçador, cidade de 70 mil habitantes no Meio-Oeste do Estado, deve lançar o tablet Braox em setembro deste ano. E promete entrar na briga para abocanhar 20% do mercado nacional do setor, segundo o presidente da empresa, Jovelci D. Gomes.
— Nessa área de tecnologia, a gente tem que começar pequeno, agir rápido e pensar grande — conta.
Fundada há três anos, mas no mercado há dois, a Aiox investiu US$ 100 milhões em desenvolvimento de novos produtos e na unidade fabril de equipamentos de tecnologia com recursos da holding Sul Brasil — fábrica de móveis, acessórios, puxadores, plástico injetado e produtos médico-hospitalares.
Entrou no mercado ao lançar os computadores All-in-One, um equipamento integrado, que reduz o consumo de energia, pesa um terço dos desktops comuns, ocupa menos espaço, utiliza apenas um cabo, tem gabinete integrado no monitor e teclado e mouse wireless, além de não aquecer e não produzir ruído.
Com preços competitivos, em dois anos, a empresa conquistou várias licitações e fornece aparelhos para as áreas de Educação e Saúde, tanto para o governo do Estado quanto para várias prefeituras catarinenses. Com a consolidação, a Aiox, agora, pretende buscar sua fatia de mercado na onda dos tablets.
— Temos isenção de impostos e já conseguimos o Processo Produtivo Básico (PPB), o que nos coloca em posição de vantagem sobre outras empresas para produzir um tablet nacional, com apenas 30% de componentes importados — explica Gomes.
Com ICMS de 0,65%, isenção de IPI, PIS e Cofins, o tablet Braox deve entrar no mercado ao preço ainda salgado de R$ 1,25 mil. O Braox, em fase de protótipo, terá tela de 10 polegadas, 2 GB de memória RAM, 64 GB de armazenamento, conexões 3G, Wi-Fi e Bluetooth, entradas USB, câmera frontal, slot para cartão de memória, pesa menos de 400 gramas e tem espessura de 10 milímetros. Roda Android, Windows e Linux e a bateria dura nove horas.
Por enquanto, a empresa tem duas linhas de produção e 230 funcionários. Mas a previsão otimista de Gomes é chegar a 30 linhas e 5 mil funcionários em cinco anos. Espaço, a indústria de Caçador tem. Contando-se o soprepiso, é uma unidade de 32 mil metros quadrados. Já conta com parcerias importantes, como a da Intel, para utilização de processadores da marca, e da Microsoft, para o sistema operacional Windows.
— O ministro de Ciências e Tecnologia (Aloizio Mercadante) conhece nossos produtos e gostou da ideia de termos o foco em gerar emprego. Utilizamos processadores, memória e a tela importados. O resto, até mesmo o ferramental, é produzido em Caçador.
Escolas públicas são o mercado mais cobiçado
Conforme Gomes, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) está certificando os produtos Braox voltados para Educação. O alvo é pra lá de ambicioso: oferecer 30 milhões de dispositivos em escolas de todo o país. Não apenas tablets, mas também as carteiras integradas com computador e a sala de aula informatizada que a Aiox já implanta em prefeituras do Estado.
— Estamos abertos para novas parcerias com empresas de fora na produção dos tablets. A marca Braox é jovem, mas estamos entusiasmados com a perspectiva de nos tornarmos uma grande potência em 10 anos — aposta.
Em dois anos, a Aiox colocou 20 mil computadores Braox no mercado. Um número tímido diante das projeções de Gomes, que pretende produzir essa quantidade em apenas um mês. A competição com as grandes empresas não assusta o catarinense.
— Os gigantes não nos atrapalham, só nos incentivam. O que nos atrapalha são os clandestinos, com produtos pirateados. Temos tecnologia e competitividade para conquistar, pelo menos, 20% da fatia de mercado nacional dos tablets — diz.
A briga vai ser, no mínimo, acirrada. Depois do anúncio do governo federal, de que vai dar incentivos fiscais aos tablets produzidos no Brasil, 12 empresas já entraram com projetos na Secretaria de Política da Informática (Sepin) para produzir no país, de acordo com o ministro Mercadante.
Além da taiwanesa Foxconn, que anunciou investimentos de US$ 12 bilhões até 2014 em um complexo industrial para produzir o todo-poderoso iPad, provavelmente em Jundiaí, no interior de São Paulo, o grupo de concorrentes inclui ainda Positivo, Itautec, Semp Toshiba Informática, Motorola, Samsung, LG, MXT, Envision, Sanmina e Compalead.
A Samsung, a paranaense Positivo e a desconhecida mineira MXT foram as primeiras autorizadas, antes mesmo da publicação do PPB, que a catarinense já conquistou, e que reduz o IPI de 15% para 3%.
Apesar de toda essa disputa pelo mercado nacional, ainda não se sabe o tamanho que ele tem. No ano passado, foram vendidos apenas 100 mil tablets no Brasil, sendo que 64 mil foram da Apple. No mundo, a empresa da maçã está disparada na frente: 84% dos tablets vendidos em 2010 foram iPads, uma verdadeira febre mundial.
Para 2011, a expectativa inicial era de que seriam comercializados de 300 mil a 350 mil tablets no país. Com a política de isenção, no entanto, este número já subiu para 700 mil a 1 milhão de unidades. Mas o tamanho do mercado só será conhecido quando as aplicações dos tablets forem assimiladas. Por enquanto, o consumidor brasileiro ainda está descobrindo o equipamento.
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